Nascemos pequenos. Sem motivo aparente, com amor suficiente. Aprendemos a andar, a completar silabas, a formar palavras. Sabemos o nome da mãe, do pai, da avó e do tio mais presente. Conhecemos o riso do vizinho e os sapatos da tia mais velha. Começamos a correr pela casa, sem chinelos nos pés. A mãe zanga-se e o pai protege. Tu choras e o irmão mais velho critica. E tu começas a fechar-te no quarto com os amigos imaginários. Começas a sorrir, a saber contar piadas. Vais para a escola e aprendes a ler. Com as letras, vêm as frases longas e os textos complexos. Vêm também as asneiras proibidas e os nomes feios que começas a chamar aos "inimigos" mais fiéis que acabas por entender que eram os teus únicos companheiros. Começas a crescer demasiado. Uma borbulha aparece na testa e outra no canto da bochecha. Deixas-te dos desenhos animados e das cantigas infantis. Ouves Boss Ac e as bandas conhecidas. Ultrapassas a altura da avó e depois a da mãe e sentes-te superior a todos. Respondes mal, refilas com tudo. Não gostas deste mundo e do outro. Até encontrares a toupeira que te rouba o coração. Depois, nada mais importa. Até a desilusão chegar, claro. O mundo cai-te em cima, o tecto desaba e o corpo "falece". Ultrapassas a dor, passado um tempo. Fazes o secundário todo e licencias-te em gestão, lá o curso que queres seguir. E encontras outro alguém. Trocam desejos ardentes e o tão falado amor verdadeiro. Casam, têm um filho loiro e adoptam outro. O trabalho já cansa e os fins-de-semana são como férias. Mais tarde, lá te aparece o tal cabelo branco que tanto receavas. Olhas-te ao espelho e não te sentes bonita. Não dás pelo tempo passar e... perdes o marido. Vês-te, novamente, fechada no quarto, mas desta vez sem amigos imaginários. Sentes falta de um carinho, de uma palavra amiga. Os filhos, há semanas, que não vês. Estão "ocupados", lá como dizem. E tu, sozinha. Acompanhada pela solidão. Dá-te a dorzita nos rins. Nada de preocupante, pensas. Depois, a picada na cabeça. E, por fim, a picada no coração. Como pesa, rapariga. Não o amor, mas a falta dos mimos da infância.
epaaa, dos meus preferidos!
ResponderEliminaramei. não há palavras para aquilo que escreves ! Perfeito !
ResponderEliminarAdorei mesmo :)
ResponderEliminarEstá perfeito! Gosto imenso. :)
ResponderEliminarobrigada pelo teu comentário querida, e desculpa a demora a responder, tenho andado ausente do blog :)
ResponderEliminarF-a-n-t-á-s-t-i-c-o.
ResponderEliminaré tão difícil..
ResponderEliminarsão só saudades...e o tempo que ainda falta para mata-las parece que as aumenta...
ResponderEliminarobrigado*
Obrigada!
ResponderEliminarExtraordinário, perfeito! Fico sem saber o que dizer doce!
ResponderEliminar(E obrigada pelo teu comentário! )
obrigada
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